28/01/2010

Luna

(Bryan M. Viv

Luna saiu sozinha naquela noite. Na bolsa apenas algumas notas, o cartão do banco, o batom vermelho,dois maços de cigarro, cinco cápsulas de ilusão. No corpo o bom e velho vestidinho preto, pernas a mostra e jaqueta de couro para aquecer o peito. O tilitar do salto no cimento acompanhava a mente na velha canção da Nico: All tomorrow's parties...
Caminhava com desdém, as noites no centro eram tediosas e bestialmente negras feito um velho bolachão riscado. Sempre as mesmas caras, os adolescentes na calçada enchendo o rabo pra esquecer da vida e ela que sentia-se tão intesamente triste, solitária não se lembrava mais para onde estava indo. Olhou à esquerda e encontrou um bar aberto, pessoas com cara de mais de trinta, nenhuma confiabilidade: entrou e direto no balcão pediu o drink mais forte do menu. Goles agressivos, a velha ida ao banheiro, gestos mecânicos e auto-destrutivos, sai na calçada pra fumar uns cigarros e assim segue boa parte da noite sem que pareça estar sendo notada. E ela desejava realmente não ser, embora seu jeito ímpar de caminhar porta a dentro fosse irremediavelmente observado por noventa por cento dos homens. Doses mais tarde, alguém senta-se alí ao lado e começa o péssimo interrogatório sobre as coisas da vida e tudo mais que a arranncou de casa para não pensar. Enclausurada internamente conduzida pelos próprios devaneios...
Dá-se conta de um conhecido passando pela rua, olha o esmalte descascado de sempre, pensa no tempo, vê as manchas de álcool no balcão, o slogan no avental da garçonete e torce para que o idiota lhe deixe em paz. Não se pode achar a paz no inferno.Responde com verdadeiro ódio as perguntas do infeliz desavisado. Tem horas que a gente deveria sair de casa com um daqueles ícones do msn na testa: AUSENTE.
Cara de looser (pensa), ela sabe bem quem são esses tipos a procura de sexo fácil com fêmeas embreagadas àquela altura da madrugada. De repente o telefone vibra: linceça!
Sai andando na rua com o demônio na mão, as pernas trêmulas, um lapso de vida. Faz sinal para o táxi e vai em busca do bom e velho purgatório: o sexo quente, a alma gélida e aquele olhar evazivo que para sempre lhe amputara o riso.